Criar uma pequena empresa é algo bem mais complexo do que a maioria das pessoas imagina. Exige muita preparação prévia, estudo e uma forte vontade de triunfar por parte do empreendedor. A velha ideia de que bastava abrir um pequeno espaço e os clientes começavam a aparecer, faz hoje parte do passado. Antigamente, os conhecimentos eram escassos e quem tivesse acesso a informação privilegiada tinha uma grande vantagem face à concorrência. Nos dias de hoje, essa mesma informação está em toda a parte. Por isso, atualmente a preparação necessária para se criar uma empresa é muito maior.
E quando o assunto é preparação, o Plano de Negócios ganha uma importância enorme. Não se percebe como ainda existam empresários que teimam em não planejar o que pretendem para a sua empresa. Mesmo para quem tem como objetivo criar um blog, é necessário pensar em todos os passos que quer seguir. No final do ano passado, demos a conhecer as nossas metas para este ano, podendo considerar estes objetivos como uma linha orientadora para o nosso negócio. Isto é o mínimo que se pode fazer. Mas para quem quer gerir uma empresa onde tenha funcionários, produtos ou uma loja para vendas, um plano de negócios torna-se algo fundamental. Mas cuidado: é preciso fazê-lo da forma correta.
Para quê serve um plano de negócios?
Antes de tudo, é importante ter na sua mente que um plano de negócios necessita de ser prático. Não pode funcionar como aqueles projetos da faculdade, que acabam por ficar apenas no papel. Quando elaborar um projeto deste gênero, faça com que qualquer pessoa olhe para ele e consiga imediatamente colocá-lo em prática. Um plano de negócios deve ter as linhas essenciais da sua empresa e explicar como você vai fazer para torná-la rentável. É a passagem da teoria para a prática. Veja algumas das características que deve ter um plano de negócios:
- Simples
- Objetivo
- Realista
- Completo
Ele pode torna-se vital para conseguir angariar investidores ou para pedir empréstimos aos bancos, mas é muito mais do que isso. Contudo, alguns empresários continuam se desculpando dizendo que “não têm tempo para fazer um plano de negócios”. Isso é um erro fulcral. Quanto mais ocupado tiver, maior é a sua necessidade de ter o seu projeto organizado.
Os vários tipos de planos de negócios
Como referi anteriormente, o plano de negócios serve para você planejar os seus próximos passos. Mas esses passos podem ocorrer em qualquer altura da vida da sua empresa. Ela pode estar no início e definir o que vai fazer nas primeiras semanas, ou pode estar pensando numa expansão e querer escolher os próximos passos a seguir. Para que perceba melhor, vamos definir os vários tipos de planos de negócios e o que deve fazer com eles:
- Plano inicial: É o mais comum. Tem como objetivo definir os princípios gerais de uma ideia de negócio. Deve abordar tópicos como o tipo de empresa, o produto que vão comercializar, o mercado, uma projeção de vendas ou uma demonstração de resultados. Como estamos a falar sobre uma empresa em início de vida, é importante que se fale sobre o porquê de acreditar que a ideia vai ter sucesso, das características do produto e da credibilidade da equipe
- Plano de expansão: Podem funcionar em situações de crescimento de uma parte da empresa (um produto em específico) ou da empresa no seu todo. Podem ser tornados públicos ou mantê-los privados, dependendo se foi criado com o intuito de conseguir financiamento externo. Nesta vertente, a experiência de toda a equipa torna-se fundamental para conseguir uma resposta positiva por parte dos investidores
- Plano de reestruturação: Serve para empresas que queiram sair de uma situação financeira mais complicada ou que queiram reformular a sua forma de trabalhar no mercado. Para isso, necessitam de convencer os investidores e os colaboradores da própria empresa. É preciso saber explicar as razões de isso estar a acontecer e o que se vai fazer de diferente nos próximos tempos.
Erros mais comuns no plano de negócios
Antes de explicar passo-a-passo o que deve fazer para ter um plano de negócios eficaz, vou dar a conhecer alguns dos erros mais comuns que as pessoas cometem quando o assunto é tentar convencer investidores sobre uma nova ideia de negócio:
- Achar que o seu produto é melhor: Isso é a sua opinião pessoal, mas não significa que a pessoa que o for ler veja dessa forma. Se o seu produto for efetivamente o melhor, justifique isso com dados concretos
- Os clientes concordam com a excelência do nosso produto: Como você sabe isso? Já fez algum inquérito detalhado? Perguntar a apenas algumas dezenas de pessoas pode levá-lo a conclusões que não correspondem à realidade
- Os clientes não têm qualquer risco quando compram um produto nosso: Diminuir o risco de compra do cliente é uma estratégia válida, mas isso não é garantia de sucesso. Não se baseie nesse fator no momento de explicar a viabilidade do seu negócio
- Não teremos qualquer dificuldade em conseguir colaboradores: Os tempos estão difíceis e por isso existem muitas pessoas a precisar de trabalho. Mas isso também não torna a contratação de funcionários como algo “fácil”. Por mais procura que exista, é sempre uma dificuldade conseguir alguém com as características que você necessita
- Vamos conseguir ter sempre o preço mais baixo: Aqui está outro erro bastante comum. Na altura que elaborar o seu plano de negócios, é bem possível que você esteja a conseguir ter o produto mais barato. Contudo, essa realidade pode ser facilmente alterada. De repente, existe um concorrente que consegue uma matéria-prima mais barata e aí a sua teoria do preço mais baixo deixa de fazer sentido
- Vamos conseguir patrocínios: Isso é apenas uma possibilidade e nunca uma certeza. Evite basear grande parte do seu orçamento em algo tão inconstante como os patrocínios, que aparecem e desaparecem à velocidade da luz
Estrutura base
Apesar de poderem ter objetivos diferentes diferentes, todos os planos de negócios devem ter uma estrutura base bastante semelhante. Um dos pontos que você deve ter em atenção logo ao início é o tamanho do seu projeto. Afinal, quantas páginas ele deve ter? Eu aconselho que não se tente passar as 30 páginas. Menos que isso, talvez seja insuficiente para explicar a sua ideia. Mais páginas, podem tornar a sua ideia em algo cansativo para quem está a ler. Lembre-se que para você é uma ideia única, mas para um trabalhador de um banco ou um investidor é apenas mais um projeto que chega à sua mesa.
1. Sumário Executivo
É o local que você deve utilizar para resumir toda a informação sobre o seu negócio. Neste campo, a pessoa que estiver a ler deve ficar com toda a noção do que representa a sua ideia. Se ele não for claro, pode desencorajar a continuação da leitura. Apesar de aparecer no início do documento, o sumário executivo deve ser apenas escrito depois de todo o plano de negócios estar escrito. Isto porque só dessa forma você conseguirá ter uma noção mais abrangente daquilo que pretende, aumentando a qualidade do seu sumário executivo. Veja, de seguida, alguns pontos essenciais que devem estar presentes:
- O nome do negócio e a sua área de actividade
- A missão
- O âmbito do negócio
- Em qual mercado vai actuar
- Quais os recursos humanos e financeiros necessários
- Qual o prazo previsto para começar a ter lucros
- Os pontos fortes e fracos
- Qual a sua experiência na área
2. A história dos seus promotores
Quando iniciamos um negócio, temos uma motivação. Mas para termos sucesso com uma empresa, é necessário que exista alguma experiência nessa área. Se quiser começar um site com notícias de tênis, terei sempre que saber alguma coisa sobre a modalidade. Caso contrário, estaria a diminuir drasticamente as minhas possibilidades de ser bem sucedido. Nesta parte do plano de negócios, fale um pouco de si e sobre os seus sócios. Conte o que fizeram no passado e como isso pode ser fundamental para conseguir ter sucesso liderando a empresa.
3. O mercado
O mercado é outra das vertentes que os empresários muitas vezes se descuidam, acabando apenas por ter noção disso quando já é tarde demais. Ao começarmos um projeto, temos de saber a quem vamos vender, mas principalmente qual é o estado que se encontra esse mesmo mercado. Está em declínio ou expansão? Já atingiu o seu ponto de maturidade ou ainda poderá crescer mais? Existem negócios que se encaixam melhor em mercados em crescimento, enquanto outros preferem mercados mais maduros.
Os jornais, por exemplo, terão que se concentrar em mercados menos desenvolvidos e com escassos hábitos de leitura, como os países africanos. Já o nicho dos iPad’s, jamais poderia pensar em apostar em mercados com menos poder de compra, tendo sempre que se dedicar a regiões com mais dinheiro atualmente como a Europa ou os Estados Unidos. O produto que você vender irá sempre condicionar o mercado que irá explorar.
4. Seu posicionamento no mercado
Antes de entrar no mercado, você precisa de definir qual posição você vai ocupar. Pretende ser líder? Ou quer apenas uma parte das vendas? Nem todas as empresas pretendem ser líderes de um área logo nos primeiros anos. Até porque isso pressupõe um investimento muito volumoso, algo que muitos empresários não têm condições de proporcionar. No plano de negócios, defina para si que parte dos clientes quer ganhar no mercado: 5, 20 ou 50%?
5. O projeto
Neste ponto, você deve dar a conhecer em que parte está o projeto. Mesmo que esteja no início, com certeza já terá alguns pormenores concluídos: o local para trabalhar, o material necessário ou quais as pessoas que vai necessitar para produzir ao seu lado. No fundo, terá que fazer um balanço do que foi feito até agora e do que falta ser concluído até ao lançamento do produto ou serviço. É necessário que seja realista e que faça um balanço correto de todos os pormenores, para que a projeção financeira possa ser a mais acertada.
Nesta parte devem ser feitas também as reflexões dos pontos críticos. Ou seja, os aspetos que são essenciais para o seu projeto seguir em frente. Imagine que conseguir ter no mínimo mil leitores por dia no seu site é essencial para conseguir gerar bons rendimentos. Este é um ponto crítico, que deve ser referenciado e tratado como prioritário. Por outro lado, permite aos empresários se prepararem para planos alternativos, de forma a minimizar os riscos do projeto.
6. Estratégia comercial
Depois de escolher o que vai fazer e como vai fazer, está na hora de decidir como vai dar a conhecer o seu produto ao mercado. O primeiro passo é decidir um preço. Este fator vai logo condicionar a forma como uma parte dos possíveis clientes olham para si. Não se esqueça de calcular todos os custos associados à produção e distribuição. Depois de definir o preço, chega o momento de escolher a estratégia de marketing adequada. Se tiver dúvidas, opte por ler este nosso artigo sobre as 8 estratégias para criar um plano de marketing.
7. Projeção financeira
Este é dos pontos mais complexos e que dará mais trabalho. Nesta parte, você precisa de tentar prever:
- Receitas
- Impostos sobre as receitas
- Custos com o produto
- Custos com colaboradores
- Custos com a publicidade
- Número de vendas
- Número de clientes
- Stocks
- Empréstimos
- Férias
- Investimentos
Todos estes pontos (e mais alguns) devem estar presentes nesta fase. É nele que os investidores prestam mais atenção e é a projeção financeira que vai definir se a sua empresa é viável financeiramente ou não. Neste momento é que é feito o balanço entre as vendas e as despesas que o negócio representa. De nada vale ter uma startup que tenha um bom número de vendas, se essas mesmas vendas não chegarem para cobrir as despesas associadas. A melhor opção é mesmo fazer uma pequena planilha.
8. Gestão e controle do negócio
Além de demonstrar aos possíveis investidores que o seu negócio tem pernas para arrancar, o plano de negócios também serve para justificar a manutenção da sua startup a longo prazo. Neste ponto, o futuro empresário explica como vai fazer para manter as receitas acima das despesas. Antigamente, este controle era feito através de relatórios prolongados. Hoje em dia, esse trabalho é facilitado através de software. Contudo, é sempre positivo para a pessoa que produz o plano de negócios que dê uma noção ao investidor de como fará essa manutenção financeira. Caso tenha dificuldades neste ponto, o aconselhável é contratar um contabilista.
9. Investimento necessário
Para concluir, você precisa de ter noção do dinheiro que vai ser necessário para o início do projeto. Além disso, precisa entender de onde virá esse dinheiro: será seu ou emprestado? Depois, é obrigatório perceber quanto tempo irá demorar a recuperar todo o capital investido, para que a empresa possa começar a gerar maiores lucros. Este ponto também serve para precaver eventuais imprevistos. A análise financeira permite aos investidores terem uma noção de quanto irão perder caso a empresa feche as portas passado alguns meses.
Já fez seu plano de negócios?
O meu primeiro contato com um plano de negócios aconteceu ainda na faculdade, quando fui obrigado a realizar um para um projeto de final de curso. Só nesse momento percebi a importância do mesmo e o quanto ele é necessário e obrigatório para qualquer empresa. Com este artigo, você fica com os pontos essenciais, tendo uma boa base orientadora.