O trabalho de freelancer é bastante abrangente. Na realidade, existem centenas de profissões que podem utilizar o regime de freelancer. No entanto, uma das mais comuns é a de tradutor freelancer. Esta área de negócio tem aumentado bastante nos últimos anos, principalmente a partir do momento em que a internet passou a ser uma ferramenta comum a todos os profissionais. Hoje em dia, é bem mais fácil encontrar propostas de trabalho na área de tradutor. Além disso, o número de ferramentas para tradução cresce a cada dia que passa. Por este e por mais alguns motivos, neste post vamos dar a conhecer alguns passos essenciais para trabalhar este nicho de mercado tão aliciante nos dias de hoje.
É inegável que o mercado da tradução hoje é bem mais agressivo e dinâmico que na época de Jerónimo de Strídon, padroeiro dos tradutores, que traduziu nada mais, nada menos, que a Bíblia, do grego antigo e do hebraico para o latim, no século IV d.C. Por isso, a finalidade deste artigo é nortear os primeiros passos de quem pretende adentrar-se ao universo fascinante, satisfatório – e às vezes lucrativo – da tradução. No entanto, antes de abordarmos diretamente o assunto vamos abrir um parêntesis e definir três aspectos que, apesar de serem rudimentários, são importantíssimos para exercer a profissão, e, se não forem devidamente observados, será impossível para qualquer freelancer manter-se ativo como tradutor profissional.
Primeiro: É imprescindível que o tradutor freelancer tenha um ótimo domínio sobre sua língua materna. Talvez seja por isso que os profissionais com formação em Letras, ou em Tradução, sejam os mais cotados por algumas agências, para preencher as vagas disponíveis no mercado. Deve-se considerar que, apesar da profissão de tradutor não ser regulamentada no Brasil – fato que tecnicamente permite a execução da função por qualquer pessoa, mesmo sem nenhuma formação específica -, é óbvio que a qualidade da tradução vai depender do nível de conhecimento que o profissional possui do seu próprio idioma.
Segundo: Precisamos esclarecer o que é, ou quem está apto para ser um tradutor. Neste caso, eu sempre digo que conhecer, ou de “gostar” de um segundo idioma, não faculta ninguém para traduzir. Não vale dizer que morou muitos anos em outro país, ou que é descendente de estrangeiros. O processo de domínio de uma segunda língua não se resume somente a isto. O domínio real de qualquer idioma, geralmente, deve-se a quatro habilidades fundamentais, que são: Entender, ler, falar e escrever perfeitamente algum idioma, seja ele estrangeiro ou nacional. A capacidade de adaptar fielmente um idioma a outro, configura o que chamamos de Tradução. Portanto, traduzir seria uma quinta habilidade, que, diga-se de passagem, é uma qualificação indispensável para o candidato a tradutor.
Terceiro: A “tradução” é a adaptação de um texto estrangeiro para a nossa língua materna. Quando encontramos uma situação inversa, ou seja, quando adaptamos um texto escrito na nossa língua materna para um idioma estrangeiro, chamamos de “versão”. É recomendável, principalmente para os iniciantes, trabalhar apenas com as traduções, pois o fato de dominar melhor a sua própria língua o ajudará a reduzir a possibilidade de cometer erros, que, se ocorrerem sucessivamente, podem danificar a sua reputação e encerrar prematuramente a sua carreira como tradutor. Uma solução para não perder clientes, seria associar-se com tradutores nativos de outras nacionalidades. Desta forma, teremos a garantia de estar prestando um serviço de qualidade incontestável. Agora, munidos com estes três fundamentos, é hora de ir direto ao assunto. Vamos iniciar comentando sobre alguns desafios contemporâneos que os tradutores freelancers enfrentam no exercício da função.
PROGRAMAS DE TRADUÇÃO AUTOMÁTICA
Um destes desafios, sem dúvidas, são os programas de tradução automática. Muitos desses programas são disponibilizados gratuitamente na Internet, liderados pelo gigante Google Translator. Neste caso, devemos considerar o fato de não existir um software de tradução que supere a percepção humana em quanto à semântica, que é quando recriamos um texto respeitando o preciso sentido das suas palavras e da mensagem transmitida. Com um teste simples em qualquer site de tradução automática, será possível comprovar que a máquina, definitivamente, ainda não supera o cérebro humano. Receio que, inevitavelmente, algum dia isto ocorra, mas pelo menos por ora, os tradutores profissionais podem ficar tranquilos.
PREÇOS
Outro assunto que também é um desafio, é a questão dos preços. Eu costumo seguir as tarifas sugeridas no site do Sindicado Nacional dos Tradutores (SINTRA), pois estas, apesar de serem modestas, constituem uma base sólida para que um tradutor freelancer possa formular seus preços no Brasil.
O problema está na prostituição de alguns profissionais que, no desespero de ganhar algum dinheiro, praticam preços muito abaixo dos que são praticados no mercado, prejudicando outros tradutores e tornando a profissão quase insustentável. Por exemplo, o SINTRA sugere que o custo da tradução seja de R$0,26 por palavra, mas já vi “tradutores” cobrando apenas R$0,03 por palavra. É óbvio que devemos ajustar o preço sugerido pelo SINTRA de acordo ao volume de trabalho concedido pelo cliente, mas este não foi o caso do exemplo citado acima, pois o volume da tradução em questão era relativamente pequeno e, ainda que o volume fosse enorme, convenhamos que nada justifica cobrar R$ 0,03 centavos numa tradução.
Uma das grandes vilãs no quesito preço, são as agências de tradução, que, aproveitando-se da sua capacidade de absorver um grande volume de traduções com preços imbatíveis, repassam os serviços para freelancers ao redor do mundo, pagando honorários ridículos. Por isso, o tradutor freelancer independente deverá trabalhar na construção de relacionamentos de confiança com seus clientes. Talvez leve algum tempo até conseguir construir uma lista interessante, mas, se for capaz de fazê-lo, após alguns anos terá uma carteira de clientes invejável e fiel, e, desta forma, não dependerá das migalhas que caem das mesas das agências.
Uma sugestão neste caso é: Formar o seu preço e fixar um piso justo, tanto para você quanto para o mercado, e, sob nenhuma hipótese, aceitar serviços com preços abaixo do que foi estipulado. Tanto os profissionais como os clientes devem reconhecer que os preços praticados estão diretamente relacionados com a qualidade dos resultados esperados. Portanto, se o que procuram é a qualidade ótima, deverão cobrar/pagar o equivalente pelos serviços em questão.
MEMÓRIAS DE TRADUÇÃO
Os softwares de memória de tradução, diferentemente dos softwares de tradução(que já foram citados no início), são grandes aliados para agilizar o processo da tradução. Mas não podemos nos enganar com as maravilhas destas ferramentas, afinal, quem traduz é o tradutor, não o computador. Ainda hoje há tradutores que trabalham com lápis e papel, sem nenhum recurso eletrônico. Claro, são a minoria, mas existem. O resultado final é igual e, talvez, superior aos obtidos utilizando a ajuda destes softwares. A desvantagem de traduzir sem utilizar os meios informáticos é que o trabalho resultará lento e demorado, ou seja, inviável para a nossa realidade moderna. Portanto, se quiser manter um bom fluxo de trabalho, deverá adaptar-se às ferramentas que estão disponíveis e aprender a extrair o máximo proveito delas. Aqui vão algumas dicas de softwares de memórias de tradução:
TRADOS
Este é o mais conhecido entre os tradutores e, também, o mais exigido pelas agências. Possui funcionalidades diversas, que facilitam a vida dos profissionais. É um software privativo e os preços variam de acordo à versão do programa que o usuário preferir. O site oficial é o www.translationzone.com.
WORDFAST
Também é privativo, mas possui uma ótima versão de demonstração gratuita. Na minha opinião, é um pouco mais fácil de utilizar que o Trados, e está disponível em várias versões no site oficial: www.wordfast.com/.
OMEGAT
Trata-se de um programa opensource, e o download é gratuito. Se partirmos do princípio que quem traduz é o tradutor e não o computador, este software servirá com folga para atingir os objetivos da tradução freelance. Site: www.omegat.org.
TRADUÇÃO SIMPLES E TRADUÇÃO JURAMENTADA
Todos os aspectos que comentamos até agora são referentes somente às traduções simples ou livres, ou seja, as que não se enquadram nas exigências da fé pública como os manuais, textos técnicos, livros, monografias, teses, e alguns tipos de documentos, entre outros. No caso das traduções Oficiais ou Juramentadas, como os documentos, procurações e certidões, somente podem ser realizadas por tradutores concursados nas Juntas Comerciais dos Estados brasileiros. Os tradutores aprovados nestes concursos recebem o título de Tradutor Público, ou Tradutor Comercial. Em síntese, a tradução feita por estes profissionais não é melhor nem pior que a do tradutor freelancer. A única diferença é o caráter oficial da tradução exigido pelos órgãos públicos, para dar boa fé dos documentos traduzidos.
RESPONSABILIDADES FISCAIS E APOSENTADORIA
O tradutor freelancer é um trabalhador com os mesmos direitos e deveres dos seus concidadãos. Por isso, deverá dar atenção especial aos fatores como a Previdência Social, a Receita Federal, a emissão de nota fiscal, contratos, licenças de funcionamento, registros nos órgãos públicos, enfim, todas as burocracias exigidas por lei para a execução de qualquer atividade econômica lícita. Contratar um seguro de vida, um plano de aposentadoria privada e consolidar uma poupança são fatores indispensáveis, afinal, nunca é demais prevenir-se dos altos e baixos, bastante comuns, de quem desempenha este trabalho.
PERFIL GERAL DOS TRADUTORES FREELANCERS
Vamos concluir apresentando alguns dados, levantados nas pesquisas amostrais de uma comunidade de tradutores na Internet que, atualmente, conta com mais de 8 mil membros. Veja o que elas revelam:
Dados Gerais
70% dos tradutores já moraram no exterior ou já saíram do Brasil.
41% tem como fonte de clientes as referências de amigos e conhecidos.
71% não participam em nenhuma associação de tradutores.
42% nunca sofreram calote.
61% tem a tradução como atividade principal.
62% tem uma renda média mensal de 3 a 6 mil reais.
71% diz não temer ao Google Translator.
Escolaridade
18% tem Mestrado ou Doutorado.
73% tem o ensino superior completo ou incompleto.
4% completaram apenas o ensino médio.
Tipo de softwares que utilizam
36% utiliza softwares privativos.
12% utiliza Opensource.
17% utiliza softwares obtidos de forma ilegal.
66% utiliza Wordfast ou Trados.
25% não usam nenhuma ferramenta de memória de tradução .
Tipos de tradução
44% das traduções são técnicas.
15% são literárias.
8% são científica.
7% são legendagem.
Local de trabalho
86% trabalham em casa ou no escritório próprio.
4% trabalham em uma agência de traduções.
6% em alguma empresa ligada à área.
Índice de satisfação
51% dos tradutores dizem estar satisfeitos com sua atividade.
37% afirmam estar insatisfeitos.
A maioria dos casos de insatisfação ocorre por parte dos novatos, por conta da falta de experiência e, também, pela falta de clientes regulares. Estes dados, por serem amostrais, não podem nos servir como um parâmetro, mas, como referência, são suficientes para nos dar uma ideia geral do comportamento do mercado e dos profissionais da tradução no país.
O artigo de hoje foi um guest-post de Antônio Martins Jr., editor e fundador do www.enfoquenet.com.br, o blog do Enfoque Empreendedor na Internet